domingo, 15 de novembro de 2009

All I need. (Seja o que deus quiser)

Eu não quero escrever ficção.

Eu não quero mentir sobre ti.

Não é que sejas má rapariga. Eu gosto de mentir sobre boas raparigas. Mentir que elas são más. Não que sejas má. Enfim. Explico:

Agora apenas penso a sério nesta altura. Quando é noite e as folhas estão molhadas no chão. Sentes uma tempestade na espinha. Sentes-te teatral, pela escuridão. Mas não é por aí. É apenas um alívio, de conseguir pensar. E hoje é em ti: Não te amei. Mentira, amei-te: não te comi. Ou não te amei: não te amei no chão, nem no balcão da cozinha nem de costas contra a parede.

Mas penso que sim. Portanto não minto. Está explicado?

Tinhas cara de puta. Ninguém percebia isso, eu disse aos meus amigos
- E a Carla, não achas que tem um bocado cara de puta?
-Fogo, não. Por que raio?
-Eu acho tanto.
-A rapariga nunca dormiu com ninguém!
-Como é que sabes?
-Não perguntes. Um sexto sentido.
-Deve dar jeito.
Mas tinhas, tinhas pois.

Em sépia via-te, no banco de trás do meu carro. O teu cabelo Castanho escuro e o batom vermelho. Close up do teu batom vermelho e um sorriso, largo e depois encolhes os lábios numa vergonha falsa. Os olhos com rímel que parecem um pouco mais pequenos, um pouco mais claros. Mas nada parece incrível, tirando a forma como ondulas. Como enganas ou outros, que te acham santa, mas para mim és um animal.

No banco de trás do meu carro és um animal. Pedes
-Põe uma música sexy para mim bebé.
-hum. Algo de que género?
-Põe o cd de radiohead que tens aí. A all i need.
-Isso não é sexy, desculpa.
-Oh, para mim bebé?

Está demasiado obsceno, desculpa. Obsceno estranho, mas obsceno. Vou tentar acalmar.

-Eu gosto muito da música. Lembra-me de ti.
-Ponho, claro linda.
-Vem.
Eu vou, trepo o banco da frente e tu deitas-me, montas-me como um animal e não me beijas. As memórias, as mentiras, estão difusas. Mas eram sim, os teus lábios vermelhos. As tuas mãos a desapertarem com cuidado os botões da camisa branca e o teu busto a acontecer. Num soutien branco que na noite me dava a tua pele, me dava o decote, o meu desejo desavergonhado. Eu gemia de te ver, animal e tu era animal também. Bebias o meu desejo e sorrias, divertia-te a minha necessidade.

15/11/2009

Porque te vejo assim? Entretanto olhas-me enquanto faca. Entretanto olhas-me enquanto dor mas dóis mais. Onde estás? As minhas mentiras de ti, não sei para que serviram.

Era noite e as folhas estavam molhadas. Isto lembro-me bem, acho eu. Os teus olhos quando te foste embora. Não sei se me reconhecias. Foi no carro mas não havia tons sépias, não havia batom vermelho. Disseste

-Obrigado por me trazeres a casa.
-De nada Carla.
-Vê-mo-nos por aí.
-Sim

Nos teus traços cinzentos eras tu e pronto. A linha da tua sombrancelha que enrugava um pouco a testa, naquele padrão de pele. Da tua pele.
Na tua cara dizias adeus e foi isso que mais me custou. Estava tão habituado à tua cara de pêga.