quinta-feira, 29 de abril de 2010

Erotika


Poster adorável, não é?

Vão lá, ver pessoas a fazer sexo à borlix.

Desculpem por mais um post fingido. Eu prometo redimir-me.

sábado, 24 de abril de 2010

Stranger song


















Encontrei hoje um cd que o meu irmão me fez quando era miúdo. Uma colectânea. Cada música parece uma fotografia de um lugar que se perdeu, um lugar inocente e seguro. Uma música dos James chamada "Just like Fred Astaire". Agora gosto deles, mas comecei a ouvi-los há relativamente pouco tempo. Afinal não. E uma do Pete Yorn chamada "For Nancy". Este é o rapaz que fez um album recentemente com a Scarllet Johansson. É engraçado, é pop.

Esta foto é uma memória que não me pertence. É este o teu sítio?

sábado, 13 de março de 2010

Tipo no fígado




É um meio entre medo e desejo. É algo que te compele, não sabes de onde. Um lugar escuro: se vier dum lugar escuro é quando o sexo sabe melhor.

E agora vem dum lugar escuro.


Olho-a nos olhos mas ela não me vê. E eu vejo-a igualmente mal mas minto-me. Sinto isto: um meio entre medo e desejo, só porque ela diz algo inteligente

-Se calhar estás à procura de algo que não podes encontrar.


Ela entra no meu espaço pessoal: isto é verdade.


E depois não me liga mais. Vai-se rir com as amigas.


Eu fico com vontade mas não digo:


-Foda-se


se calhar digo, mas baixinho.


Trata-se de uma paixão incondicional por mim mesmo. Uma paixão ou o contrário. Os dois. E se ela me fode o amor próprio toca-me para lá da pila. Tipo no fígado.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

The Cure Bd

É a primeira página ou uma experiência?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

The Cure

4

Começa a bateria.
Sinto o baixo, a guitarra atrás de mim. O negro, o negro toca-me o suor na ponta do nariz. o suor que me cobre a cara, ou apenas a pele não sei, sinto-a mais pesada. A minha face tomba, olho o vazio. E depois sinto o baixo: já nem sei quando é que devia começar a cantar.

Ajoelho-me.

Na multidão à minha frente parece que vejo a tua cara. Os cabelos desalinhados, a maquilhagem negra. Face pálida. É a tua cara, eu apenas sou o teu espelho. Apoderei-me de ti. Agora voltaste. Pelo menos em transe. Mas voltaste

1

Foi ainda no início.

Agarravas-me nos ombros, eras dona de mim. Eu não vou mentir, eu nunca fui o homem que queria ser. Nunca fui forte ou masculino. E tu eras dona de mim.
Eu estava deitado. Tocascamente, agarrava-te os cabelos, passava as mãos pelas tuas costas. Mas deitado e observava-te. Era como se tivesses a perfeita noção de que te observava. Sabias como colocar o corpo, como inclinar as costas, de forma oposta os ombros, esticar o pescoço, abrir ligeiramente os lábios. Agarravas os meus ombros: eu era o teu apoio, um objecto de quem eras, um reflexo do que te aprazia. Eu era o teu vibrador, as tuas ancas levantavam e baixavam, mordias o lábio como se soubesses o que fazias (sabias) e como se soubesses que eu não fazia ideia (sabias). Olhava-te nos olhos. Adorava-te. A tua tez pálida, maquilhagem negra, cabelos desalinhados. Adorava-te, não por gostar de ti. Não eras fantástica como pessoa. Adorava-te por me ganhares a ser eu.

2

É apenas um espelho inclinado, um espaço cheio de pessoas que passam, pessoas que ficam, que acham que dá para conversar, as outras queixam-se, gritam, chateiam-se. Eu fico, sou dessas pessoas que fica. Mas fico no espelho inclinado, olho-me nos olhos. Na mão tenho o lápis preto grosso que usavas para te maquilhar. Pinto-me. As pessoas passam por mim e olham. Pensam, algumas dizem
-É tão ridículo. É que se eles ainda fossem alguma coisa de jeito.
E têem razão. Ainda assim, estou mais perto de mim. Era isso que precisava.
Tu morreste ontem. Porque é que te digo, parece uma tentativa idiota de informar outra pessoa. Mas não consigo evitar: Tu morreste ontem. Deixaste-me o lápis e um beijo vermelho num guardanapo. E hoje roubei-te para ser eu.

3

Tenho feito sexo muito melhor. Agora fico eu em cima. Agora é ela que me olha, é ela que quer ser eu.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Tryptych of Henrietta Moraes - sobre Kundera

Isto é verdade. Desta vez é.

Oiço a água do autoclismo a correr, baça, ao longe.
O apartamento não é meu, parece vazio. Uma caixa castanha, fita cola larga rasgada, como se alguém se tivesse mudado para aqui recentemente. O frio que está, que sinto, congela a sala. Entrenha-a na sua ausência, na luz focada de um pequeno candeeiro e na luz geral de uma cidade nocturna que a envolve. A escuridão parecem quatro paredes, a isolação de um outro mundo. E eu bebo o meu café com leite, descansado, por contraposto inevitável a ela.
-Desculpa estar sempre a ir à casa de banho. Tenho estado assim desde que a polícia me chamou.
-Desculpa eu. Querias-me dizer algo?
-Sim. Preciso de te dizer o que lhes disse. Só para que os factos confiram.
-Claro, obrigado. Senta-te, acalma-te Cristina.
-Não consigo.

Conheço-a há alguns anos, é uma rapariga impecável. Veste-se sempre exemplarmente, deixando passar o menos possível da sua nudez. Agindo assim também.

Agora Cristina estava nua. Não de pele mas de sentimento. De olhos desamparados, na sua sensibilidade exposta. De cabelos despenteados, de faces corrompidas. E assim, algo me intrigava. Senti a urgência de a violar. Não de fazer amor com ela, mas de a violar: como uma forma de a descobrir. Havia algo nela que me atraía, um essência indelineável. Uma pérola interior e apetecia-me abri-la para a encontrar. Entre as complexas oposições entre a sua postura e a sua destruição, a sua elegância e o horror. Queria vê-la exposta. Acabei por compreender a falta de sentido deste meu instinto, na sua face o desespero trouxe-me exponencialmente um sentimento de ridículo.

-Cristina, não te preocupes. Contas-me depois, não há de ser nada.
-Espero que não.
-Não será. Deixa-me trazer-te um chá, pode ser?
-Sim, agradeço-te, obrigado.

Fiz-lhe o chá.
Na sua perda, Cristina quis fazer amor comigo e eu fiz amor com ela. Ela gemeu o meu nome baixinho, eu gemi
-Cristina.
olhei-lhe nos olhos
-Cristina.
e no final foi ela quem me violou.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Lack of colour.

Desculpem pela demora. Tenho pensado em coisas.

Entre as palavras acho que é só isto que me sai. O teu nome.

Nesta época sinto-me mais sozinho acho eu. Há vários anos que passo o ano novo e vejo os anúncios que me fazem sentir mal: aqueles da super bock. A certa altura está o rapaz e a rapariga e beijam-se e a luz é fraca e a música é bonita. Ele morde-lhe o lábio. E isso faz-me sentir sozinho, a ver televisão de cerveja na mão.
Desta vez senti-me especialmente sozinho porque estive contigo.

A sala de um cinzento de luzes ténues, quase só uma televisão no canto. Eu era o centro, de cerveja na mão numa cadeira antiga. Tu do outro lado, onde quer que isso fosse. Era o outro lado. Enrolada numa manta, em várias mantas, os tecidos grossos que te davam um tom de inverno, na tua face iluminada colorida, olhos que reflectiam o ecrã que olhavas. E eu olhava para ti. Via-te, tão longe, idealizada. Entre cabelos que te enterneciam. E eu olhava para ti.

Tu sabias, a certa altura tinhas que saber. Mas estavas longe.
disse-te:
-Vou buscar um chá. Queres um para ti?
só para te ouvir. e disseste, entornaste as palavras num maquinal
-Não obrigado.
Mas eu também não queria chá. Queria o teu nome. Queria tudo o que me desses. Se me desse o teu nome
-Estás a ouvir-me amor?
-Sim querido.
-Dás-me o teu nome?
-Desculpa?
-O teu nome. Eu queria o teu nome.
-Não fazes sentido.
Foi aí que deu o anúncio da super bock, acho eu.
Não sei quando é que aconteceu. Acho que foi pelas minhas costas, esperaram que eu estivesse distraído. Depois olhei e dominou-me, apertou-me os pulmões. O cinzento da sala, as luzes ténues deixaram-se e ficou só o cinzento. Que me apanhou. Mas tu não, tu estavas colorida ainda. Iluminada pela televisão provavelmente. Talvez um pouco por mim também.

Quis um pouco de ti.

Sentei-me no braço de sofá onde te apoiavas. Passei os dedos pelo teu cabelo. Senti a tua pele quente. Beijei-te a testa e senti-te e tu sentiste-me. Estavamos longe mas ao menos sabíamos onde.