domingo, 1 de fevereiro de 2009

Pretty Mary K

Mary K, bonita, passeia pela praia. Os seus cabelos encontram-se espalhados pelo vento. Espalhados entre o vento. E ela sorri. A saia é o verão, é o sol nela, aquele verde transparente com flores amarelas, o decote aberto que adivinha o bikini. E tudo é feliz.

Menti.

Mary K, bonita inevitavelmente, não passeia. Um barco velho de musgo onde a água costuma tocar, um azul que já foi e agora é outra coisa, é quase só madeira molhada. Uma luz intermitente imana da janela e Mary K, bonita, desce do barco para o pontão. Está noite, o luar brilha-lhe na cara. Na humidade do seu corpo que não passou pela água mas sim por outro homem. Um marinheiro sem barba, pescador de cabelos emaranhados. Talvez outro que eu não consiga ver daqui. Mas um, pelo menos, e Mary K, húmidos no luar. Bonita, recebe uma nota na meia de algodão. Ninguém é feliz. Eu não sou. E vejo-te, na escuridão. Tu no pontão, eu na baía. Vejo a tua cara, de cabelos que não esvoaçam e a tua cara não é verdade. Duvido dela.

Se fosse não estavas ali, entretendo marinheiros e talvez a ser entretida. Estavas ao pé de mim como dizias. A tua cara mentiu-me e eu não sei se isso é possível. Se calhar esqueceste-te.

Tu no pontão, eu na baía. Sigo-te com o meu olhar aguado. A lua está no mar e reflecte-se em ti e em mim e tu vês-me. Encontras-me, parado na praia.

Assustada, assustado, mentirosa, louco. Viciado. Viciado em ti.

Eu, um marinheiro sem cabelos desgrenhados e de barba por fazer. Vestido de azul, só porque sim, honesto. Um dia era eu num barco como aquele. Num luar em que a tua cara não era um reflexo ou eu não notava. A luz era minha e estavas húmida por mim. Era só eu contigo.

Cara de menina, os meus gemidos, mordes o lábio levemente, eu a amar-te, tu a seres paga para isso.

Talvez.

Tenho medo de pensar que sim. Mas nesse dia a nota que tinhas na meia era minha.

Olhas para mim. Acenas-me, sorris.
Passeio pela praia e a lua acompanha-me e tu és a lua, Pretty Mary K.

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